sábado, 12 de novembro de 2011

Esmola

Tá chegando o fim de ano, natal... E com eles vêm os lixeiros, garis, seguranças, recepcionistas, porteiros, etc. pedindo a Caixinha de Natal: ESMOLA. Se acham no direito, como se não fossem pagos para realizar o serviço que prestam, a pedir dinheiro, na casa das pessoas, no local de trabalho, etc. E muitas vezes a pessoa que, mesmo não concordando com isso, é tímida, acaba dando a desculpa de não ter dinheiro. O que não exclui o problema, pois da a idéia de que, caso ela tivesse, daria.
Tudo isso é influenciado por um suposto sentimento religioso de caridade, generosidade, que é forçado nas pessoas nessa época do ano, que deixa de existir em todo o resto do ano. E aquela pessoa que é religiosa e realmente dá a caixinha de natal, é como se ela pedisse desculpa ao pedinte, se redimindo por ele estar numa condição ruim. Tudo imposto pela religião, que lhe obriga a sentir culpa por uma pessoa estar em menores condições do que você. Uma visão escrota, porque a realidade é essa. Se ele está nessa condição, é o único emprego que ela pode ter, e ganha por isso. Dignidade é receber pelo seu trabalho, não por caridade. Só que algumas pessoas ficam acomodadas, estagnadas nesse nível, se martirizando pela sua condição, como se fossem vítimas da sociedade, e não procuram evolução nenhuma. Aí surge aquele discurso de vitimização, que são vítimas da sociedade, e encaram, e vivem isso, vivem contando com a generosidade dos outros, com a sensibilidade alheia.
Pior ainda é quando você vai a algum bar, ou lanchonete, e está imposto na conta os “10% do garçom”. Como se eles já não recebessem para estar trabalhando. Eles dizem que não é obrigatório – e por lei realmente não é – mas vai lá falar que não vai pagar. Uma vez eu falei isso, o gerente já veio falando que eu tinha que pagar sim, porque o garçom me serviu na mesa, se eu não quisesse pagar eu tinha que retirar no balcão. Espera aí. Se for assim, então porque você contrata DEZ malditos garçons pro seu bar? Pra fica na porta girando bandeja? Eles estão lá, são contratados, são PAGOS para fazer só isso: servir. E servir bem! Porque o que a gente encontra de serviço mal feito, medíocre por aí, é foda. Fora o lucro absurdo, principalmente em bares, onde uma garrafa de água – direto do fornecedor sai por cerca de R$0,60 – cobram R$3,00. TRÊS REAIS. Cinco vezes o custo. O salário do garçom tem de sair disso aí, bando de filho da puta! Não da minha generosidade que vocês tentam impor.
Daí você vai à padaria comprar pão e também tá lá a maldita caixinha de natal. Como se não bastasse você pagar um preço abusivo pelo pão o ano todo, eles se acham no direito de nos pedir dinheiro no final do ano. Mas abaixar o preço do pão uma vez no ano que seja eles não abaixam. Querem fazer caridade com nosso dinheiro, não com o deles.
Devo lembrar também do programa Bolsa Família. Esmola, paga pelo governo para os ‘coitadinhos’ que não tiveram oportunidade. O que está faltando no Brasil é a valorização do dinheiro, a valorização do esforço próprio. Quer dinheiro? Vai trabalhar. Quer ganhar mais? Se esforce, vai estudar, sobe na vida. Faça por merecer. Vai querer viver o resto da vida com essa esmola do bolsa família? Como aqueles mendigos que ficam o dia inteiro deitados na rua moribundos. Você acha que está ajudando fazendo esse tipo de caridade, doando algumas moedinhas, na verdade não está ajudando em porra nenhuma. Por que o que você doa não resolve o problema do miserável. Só ajuda a mantê-lo naquela condição, porque enquanto ele estiver recebendo o mínimo, ele vai continuar no mínimo. Não vai ter motivo pra se esforçar pra sair daquilo.
Enquanto houver um generoso otário, vai haver um explorador filho da puta se fazendo de vítima. E esse papo de que doar vai te fazer uma pessoa melhor... Vai o caralho que vai. Se isso é pra aliviar alguma culpa, é uma culpa imposta pelas religiões para que você haja conforme eles querem. É claro que essa ‘ajuda’ é opcional, e eu mesmo nunca dou nem um centavo. Sou totalmente qualquer tipo de esmola, ou qualquer benefício baseado em qualquer tipo de moral religiosa.
O que pode parecer algo inocente e sem reflexos, na verdade é muito pior e cruel, pois quem recebe este tipo de ajuda continua na mesma condição e ainda se acomoda, não tem estímulo para melhorar, fica estagnado. E o que doa ajuda a pessoa a se manter na mediocridade, por vezes na miséria.

Não dê esmola.

Inspirado em um vídeo de Dâniel Fraga

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